quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O professor tratado como coelhinho atrás de cenourinhas

A grande maioria dos governantes tenta tratar os educadores brasileiros como coelhinhos. Acreditam estes que, se colocar uma cenoura na frente dos pobres bichinhos, eles vão fazer o que os “donos” querem. Na Prefeitura de Uberaba, é preciso dar cenouras para que os professores levem os alunos para o laboratório de informática? É preciso oferecer uma cenoura em troca de não faltar nenhum dia, mesmo quando passa mal ou tem um familiar morto? Agora a nova cenoura é um bônus (um 15º salário) para que os professores façam uma prova a fim de “corrigir” os erros da educação municipal. O governo de Minas também tem sua cenoura (14º). Imaginam os governantes que essa cenoura fará com que os educadores atinjam as metas estabelecidas (por eles). Esse mecanismo, importado de países ditos “avançados”, tem origem na iniciativa privada e acabou sendo transferido como modelo para o público. As maiorias das redes acreditam neste mito, justamente quando o 14º salário de Nova Iorque (um dos gurus do sistema) foi cancelado por um motivo simples: o sistema não mudou a prática docente, porque para o trabalhador, o bônus é uma recompensa do esforço que já teve e não de um novo esforço. Em recente artigo, o professor da PUC SP Ladislau Dowbor mostra que pesquisas recentes indicam que estímulo por bônus é somente um mito. Na mesma medida que aumenta o estímulo financeiro, diminui o prazer do fazer bem feito. A tendência de quem vai atrás do bônus é pegar um caminho mais curto, não necessariamente o melhor caminho. “Os que recebem os bônus inevitavelmente jogam pelo seguro, tornam-se menos criativos, colaboram menos e se sentem menos valorizados”, revela. Os educadores não são coelhos. Esse não é o caminho para melhorar a educação. É preciso repensar outros mecanismos que tenham como base a valorização profissional, o prazer pelo trabalho e o diálogo entre que faz a política e quem executa. Anízio Bragança Júnior, editor do Educa.com.

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