domingo, 7 de julho de 2013

EAD: Setor sem regulamentação cria cenário de um novo tipo de escravidão, analisa Dimas Ferreira




Diretor do Sinpro Minas analisa que em dez anos de existência, EAD criou uma situação com forte precarização do trabalho cujo principal desafio é inserir normas trabalhistas para garantir direitos mínimos



A Educação na modalidade à distância ainda é um terreno desconhecido que estamos buscando aprender. É certo que vivemos hoje num mundo da tecnologia: não vivemos sem celular, notebook, internet, entre outros. A tecnologia é um produto social que transforma pensamentos e atitudes, mas não podemos cometer o erro de creditar a ela os problemas existentes.

Para nós professores, a tecnologia tem um impacto muito forte, pois hoje existe uma demanda crescente de educação. O mercado exige uma série de competências técnicas nas pessoas e isso só é possível de se formar pela educação. Esse fato leva à educação para uma transição, onde a base é a autocriação criativa do conhecimento. E aí reside um papel fundamental da tecnologia, como comunicação e trocas.

Temos que lembrar que a Educação à distância (EAD) tem apenas dez anos. É uma modalidade que significa aquilo que a não é educação presencial, mas tem suas particularidades. Ela faz uma separação espacial e temporal entre aluno e professor, aluno e aluno, ensino e aprendizagem; tem controle do aprendizado mantido pelo aluno; necessita de um planejamento prévio; tem um processo de comunicação mediado pela tecnologia (computador, rede).

O grande problema da educação à distância é que não existe hoje (10 anos depois da sua criação) nada sobre a sua relação de trabalho. O grande desafio é inserir normas trabalhistas para garantir um mínimo de direitos aos profissionais da educação que trabalha aí.

Existem, por exemplo, vários tipos de profissionais e tarefas: os professores com planejamento, monitores de apoio às atividades e tutores de acompanhamento do processo. Mas na verdade todos são professores. No entanto, o tutor tem a pior remuneração e a maior jornada de trabalho.

Há casos de professores com 300 alunos com uma incrível sobrecarga de trabalho e salários muito baixos. Na verdade o profissional da educação perde o controle do tempo e acaba usando como trabalho seu tempo de lazer. Estamos diante de uma nova escravidão, com os equipamentos eletrônicos se tornando uma espécie de “coleira eletrônica”.

Antes o trabalho era fragmentado e previsível. Hoje é flexível e imprevisível. A função do professor é reduzida e há forte precarização do trabalho. A situação tem gerado riscos trabalhistas, pedagógicos e de saúde. Entre eles: vista cansada, síndrome do olho ressecado, ergonômicos (coluna), nervosismo, stress, depressão, síndrome de burnout, etc.

Neste cenário, o sindicato trabalha para que haja regulamentação ainda não existente. É preciso definir um regime jurídico, que poderia ser por contratos individuais ou acordo coletivo, conforme já existe em vários países. O Sinpro defende o acordo coletivo, por ter força de consolidação de direitos, mas ainda há muitas dúvidas sobre o direito autoral e de imagem, por exemplo.

Nas últimas negociações o Sinpro tem feito um esforço para incluir uma regulamentação específica que garanta melhoria nas condições de trabalho, reconhecimento da função e benefícios, além da regulamentação da jornada e salários compatíveis. Mas não há interesse das empresas em regulamentar o setor.



(Reprodução subjetiva da palestra feita por Dimas Enéas Soares Ferreira, professor da rede particular e Diretor do Sinpro MG no dia 06.07.2013, elaborada por Anízio Bragança Júnior)

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